terça-feira, 19 de junho de 2007

Direito ao endividamento

Diariamente somos inundados de anúncios de crédito fácil, basta ligar a televisão ou a rádio, folhear o jornal e a revista ou então abrir um qualquer portal. De uma forma simples, marcando umapenas um número de telefone, poderemos ficar entalados um punhado de anos. Mas ainda mais grave, deixamos de ter de passar por aquela emoção de saber se nos vão aprovar o crédito. Mas calma, para os mais puristas ainda é possível ter a alegria de nos ser concedido o crédito para a casa ou para o carro, se bem que grande parte dessa emoção também aqui já se foi.Num país endividado até ao pescoço (se não realmente não for um bocadinho mais acima), o consumismo continua bem vivo. Embora as casas já não se vendam como pão quente pela manhã, a verdade é que é cada vez mais complicado dar de caras com uma autêntica relíquia de quatro rodas. No entanto, não é difícil dar de caras com carros cada vez mais recentes e de alta cilindrada.
Mas ainda melhor é o espírito competitivo do português! Sem trabalho ou com um ordenado que raramente consegue chegar ao final do mês (desculpem, o final do mês é que chega cada vez mais cedo), a verdade é que agora basta marcar um simples número para que os desejos de Aladino nos batam à porta. O melhor de tudo, é que não é preciso ter o esforço de esfregar a lâmpada. Isto sem esquecer a cereja em cima do bolo, poderemos concretizar mais que três desejos…
Ora bem, o sacana do vizinho comprou um plasma, tem a última grande novidade em termos de telemóvel e ainda por cima tem um computador portátil. Não pode ser… Não há qualquer problema! Ligamos para os tais nove números mágicos, compramos um plasma ainda maior, se não houver melhor compramos um telemóvel igual, e o portátil ainda maior (se ele tem um portátil, passo a ter um transportável).
Só que o raio dos tipos que anunciam uma forma fácil e rápida de termos o que queremos, não explicam que depois também é preciso pagar. De preferência, no prazo acordado e nas condições que constam do contrato com aquelas letras minúsculas, que para as ler é necessário fazer outro crédito para pagar uns bons óculos ou lupa.
Porra e agora? Para além do crédito da casa, do carro, do plasma, do telemóvel, do portátil e dos óculos/lupa. Ainda é preciso dinheiro para a luz, gasolina, TV Cabo, Internet, carregar o telemóvel e ainda por cima o puto partiu a lupa/óculos! Isto para já não falar na esposa que quer ir para o ginásio, precisa de um aspirador novo. Ainda por cima, o puto precisa de explicações e quer uma Playstation 3 (o rol de jogos, porque o sacana do rapaz acaba os jogos em cinco dias) e agora precisa de óculos porque está sempre em frente ao televisor. E como se resolve este problema? Liga-se para outro dos números mágicos e problema resolvido…
Agora ter que pagar mesmo tudo? Isso é que será uma questão que ainda poderemos discutir. Porque o que realmente interessa é não ficar atrás do vizinho e tal como ele o importante é ficar endividado até ao pescoço (para voltar a ser simpático).

4 comentários:

Karl Macx disse...

Ouve lá,

No interesse e no espírito da coisa, melhor do que um tipo se endividar para não ficar atrás do vizinho é mesmo "comer" a mulher boazona do vizinho e ficar à grente dele!...

Ricardo Cruz disse...

É uma das hipóteses! O pior é se os vizinhos ficam quites!

Moby disse...

Pá, algum de vocês tem por aí 10 euros que me empreste?

Ricardo Cruz disse...

Por acaso acho que não tenho dez 10 euritos disponíveis. Mas sequiseres posso arranjar um daqueles "nove números mágicos".